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Tecnologia e clima dão vantagem competitiva ao agronegócio brasileiro sobre países europeus

No Brasil, a produtividade do agronegócio brasileiro aumentou muito nos últimos anos. A tecnologia e o clima são alguns dos fatores que fazem o país ter vantagem competitiva em relação à Europa.

É na terra ainda com os restos da soja recém-colhida que as plantadeiras semeiam a próxima safra. O milho precisa ir para o solo a tempo de aproveitar a chuva.

“Eu quero colher a minha soja e plantar o milho no máximo até o dia 15 de fevereiro, que eu acredito, pela experiencia que eu tenho, que a chuva este ano vai cortar cedo”, diz o produtor rural Sidney Flach.

Plantar na hora certa para garantir água, o insumo mais básico para lavoura, é o primeiro passo para uma boa colheita. Só que para que a mesma área produza mais sacas de milho a cada ano, é preciso ir além.

“Melhorei a tecnologia tanto de semente como de adubo. Eu melhorei a adubação do milho. Eu quero ver se eu colho mais do que eu colhi ano passado. Eu quero ver se eu colho aí uns 10% na média a mais do que no ano passado”, conta Sidney Flach.
Esse milho que o Sidney vai colher em Sinop, Mato Grosso, em pleno inverno, era impensável anos atrás. Até o final da década de 1970, o Brasil colhia apenas a safra de verão. Foi com a conquista das terras do Cerrado, nos anos seguintes, que isso começou a mudar, e o Brasil passou a colher duas safras por ano: uma no inverno e outra no verão.

Naquela época, aumentar a produção de alimentos era uma necessidade urgente do país, como conta o pesquisador do Centro de Estudos FGV Agro Felippe Serigati.

“Nós éramos importadores líquidos de alimentos. Ao longo dos anos 1980, teve situação ali, na crise da dívida, de a gente ter que decidir o que a gente faz: importa alimento ou importa combustível? Como é que a gente conseguiu virar o jogo? Justamente com tecnologia, teve um grande papel a conquista do Cerrado brasileiro. E não só que a gente deixou de ser importador líquido de alimento, não. De acordo com a FAO, desde 2017, nós somos, de forma individual, o maior exportador líquido de alimentos para o resto do mundo. Como é que a gente conseguiu fazer isso? Justamente com tecnologia”, afirma.

Foi uma revolução. O Brasil passou de importador para o posto de maior exportador de milho do planeta em 2023, ultrapassando os Estados Unidos. A safra de inverno, que antigamente era tida como uma aposta, foi quase quatro vezes maior do que a safra de verão em 2023.

Em pouco mais de quatro décadas, a produtividade das lavouras de milho da safra de inverno aumentou 11 vezes. Isso abriu espaço para que a soja – outra gigante nacional – ocupasse a maior parte dos campos no verão, principalmente no Cerrado.

O pesquisador da Embrapa Júlio Albrecht explica que a tecnologia ajudou a região a se especializar em culturas típicas de climas mais amenos.

“Hoje, nós temos aqui na região o grande produtor de soja, que antigamente era o Sul do país. Nós temos produção de café, que era Paraná e São Paulo, hoje o grande produtor de café é o Cerrado brasileiro. E mais recentemente tem a história do trigo também”, diz.
O engenheiro agrônomo Domingos Ribeiro de Carvalho participou dos primeiros programas que deram início à ocupação do Cerrado.

“O fator climático, nós temos sol o ano inteiro, nosso inverno é onde você tem mais iluminação. Chega a partir de abril, você praticamente não vê nuvem no céu. Então tem um sol ali direto, incidência direto do sol. Então, isso assusta, assusta aqueles europeus. A gente sabe que por mais que eles queiram, nunca vão concorrer com a gente, porque a capacidade nossa, potencial de produção, é muito alta”, explica.
Plantar várias safras ao longo do ano em uma mesma área é uma vantagem do Brasil em relação aos países que enfrentam inverno rigoroso, como a França, onde os produtores rurais protestam contra um possível aumento da importação de produtos agrícolas. O frio extremo inviabiliza uma segunda safra, que aqui no Brasil reduz os custos, aumenta a escala de produção e, assim, a agropecuária fica mais competitiva.

“Nós conseguimos diluir bastante esse custo de produção. Então, a Embrapa conseguiu mostrar esse potencial da agricultura tropical com muita eficiência, pesquisando, principalmente, genética, manejo das culturas, pesquisando muito os solos. E temos aqui também muita rotação de cultura e a rotação de cultura é muito eficiente porque ela quebra ciclo de doenças, pragas e doenças, e se torna uma agricultura mais sustentável. O que na Europa eles não conseguem fazer. Tanto é que nos últimos dois anos a gente tem recebido várias empresas da Europa – principalmente da Alemanha, da França, da Inglaterra – buscando informações aqui sobre esse potencial, por exemplo, do trigo, essa régua de produtividade. Porque eles estão sabendo do potencial que nós temos aqui, sabem que tem uma Embrapa pesquisando, trabalhando e buscando uma agricultura cada vez mais eficiente”, afirma Júlio Albrecht.

“Vamos nos colocar no lugar daquele produtor europeu. Ele está olhando um gigante que está tentando entrar agora nesse mercado, é natural que eles vão pedir alguma proteção, alguma barreira, para conseguir se proteger. Se colocar em pé de igualdade, eles vão ter enormes dificuldades de competir com produto brasileiro”, diz Felippe Serigati.
Quando a família do produtor rural Cláudio Guerra começou a plantar grãos em Dourados, Mato Grosso do Sul, o solo europeu era considerado mais fértil que o solo onde ele planta. Hoje, com mais safras no ano e muita tecnologia, o solo brasileiro produz mais do que o da Europa. E o Cláudio se prepara para a colheita da soja já pensando em aumentar a produtividade no futuro.

“Isso é o grande desafio que nós temos daqui a para frente. Haja vista que nós não temos muita área para abrir, né? Então, nós vamos ter que ser mais eficientes na nossa profissão e conseguirmos um aumento de produção na mesma área disponível”, diz.