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Uma política ambiental moderna para os próximos anos

“Dá um Google em casa aí. Desmatamento 2003 a 2006. Quatro anos do governo Lula. Depois dá um Google, desmatamento, Jair Bolsonaro 2019 a 22”, afirmou o presidente Bolsonaro durante o primeiro debate deste segundo turno da eleição presidencial, respondendo a uma pergunta de Lula sobre a questão ambiental. O petista trouxera o assunto à tona para se esquivar de uma pergunta anterior, sobre quem seria o responsável pela condução da política econômica caso vencesse; e o fez acreditando que, assim, poderia explorar um assunto considerado um ponto fraco da atual gestão e que, de fato, atraiu críticas internacionais ao Brasil nos primeiros anos de governo Bolsonaro.

O atual governo iniciou sua gestão no meio ambiente com uma abordagem diferente daquela que vinha sendo tradicionalmente dada: em diversas ocasiões, o então ministro Ricardo Salles dissera que as cidades eram responsáveis por inúmeras mazelas ambientais que vinham sendo desprezadas pelos governos anteriores, como no caso do saneamento básico, e cujo enfrentamento era tão importante quanto a manutenção de ecossistemas florestais, fluviais ou marítimos. De fato, é vergonhoso que apenas metade dos brasileiros tenha seu esgoto coletado, e que, daquilo que é coletado, menos da metade seja tratada; o efeito disso para a saúde e o meio ambiente é inegável. E este governo propôs um novo marco legal para o saneamento que, a muito custo (e com o voto contrário dos petistas), foi aprovado e trará dezenas de bilhões de reais em investimentos para o setor.

Olhar para as cidades, no entanto, não significa descuidar da enorme responsabilidade brasileira na preservação de suas áreas naturais. De nada adianta, por exemplo, atacar outros países que usam matrizes energéticas altamente poluentes ou que, no passado, desmataram seu território em épocas nas quais a consciência sobre o valor das áreas florestais era desconhecido ou menosprezado; os erros passados ou presentes dessas nações não nos autorizam a tratar a Amazônia e os demais biomas brasileiros com negligência. Se hoje cabe a nosso país abrigar uma região tão imensa quanto vital para o equilíbrio do planeta, é preciso abraçar o bônus, mas também o ônus. Por mais que haja jogos de interesse envolvidos em parte das críticas feitas ao Brasil – caso, por exemplo, do presidente francês, que usa a questão ambiental para atravancar acordos comerciais que tirarão competitividade de seu agronegócio pesadamente subsidiado –, é preciso, sim, olhar com mais cuidado para as florestas brasileiras.

O “Google” sugerido por Bolsonaro no debate mostra do que estamos falando. Os dados do Inpe relativos à Amazônia Legal indicam que a área desmatada durante o atual governo realmente é bem inferior à do primeiro governo Lula (mas não do segundo), embora os menores números da série histórica pertençam à gestão Dilma Rousseff. O maior problema, no entanto, é sua tendência de alta: de 10,13 mil quilômetros quadrados desmatados em 2019 para 10,85 mil km2 em 2020 e 13,04 mil km2 no ano passado. O próximo governo tem a obrigação de frear esta escalada, que é prejudicial não apenas à imagem brasileira no exterior, mas também afeta os negócios; é de interesse do setor agropecuário, por exemplo, que o Brasil seja um exemplo de preservação ambiental para que seus produtos tenham portas abertas no maior número possível de nações.